Estudo ESTeSC-IPC revela lanches escolares com o dobro das calorias recomendadas

Um estudo realizado pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Politécnico de Coimbra (ESTeSC-IPC) num município do distrito de Coimbra mostra que 80% dos lanches servidos aos alunos do pré-escolar e 1º ciclo apresentam um valor energético superior ao recomendado. Em média, os lanches da manhã servidos no município em análise têm – ou tinham, no período em análise –  um valor energético quase duas vezes superior ao aconselhado, bem como quantidades desajustadas de proteína e gordura.

De acordo com as recomendações, o lanche da manhã de uma criança com idade entre os três e os seis anos não deve exceder 140 quilocalorias (kcal), ao passo que, no caso de crianças entre os 7 e os 10 anos, é recomendado um consumo máximo de 164 kcal. Ora, os lanches da manhã servidos naquele município apresentavam, em média, 266,5 kcal, havendo dias em que ultrapassavam as 300 kcal. Também a quantidade média de gordura e hidratos de carbono servidos apresentava valores superiores aos aconselhado: 9,5 gramas de gordura, em média, em vez das 4,5 (3-6 anos) ou 5,5 gramas (7-10 anos) máximas recomendadas; 32,5 gramas de hidratos de carbono, em média, em vez de 17,5 (3-6 anos) ou 20,5 gramas (7-10 anos) máximas indicadas. O problema repetia-se no período da tarde.

“O consumo de refeições intermédias hiperenergéticas, hiperlipídicas e hiperglucídicas contribui, a longo prazo, para o surgimento de obesidade e doenças crónicas associadas. Simultaneamente poderá comprometer a ingestão completa da refeição subsequente (nomeadamente o almoço) com impacto no desperdício alimentar e comprometimento do aporte energético e nutricional diário”, alerta João Lima, docente da ESTeSC-IPC e um dos autores do estudo “Are intermediate school meals a real contribution to improve a healthy and sustainable diet?”, publicado no British Food Journal.

Tipicamente, as refeições intermédias da manhã no município em análise eram compostas por leite, acompanhado por pão com manteiga/queijo ou bolachas, enquanto os lanches da tarde tinham uma composição mais variada, podendo conter frutas/vegetais ou um queque tipo “madalena”. Ajustar quantidades (por exemplo, reduzindo o tamanho do pão servido) e o perfil nutricional dos alimentos permitiria equilibrar estas refeições, explica João Lima. Recomenda-se que o lanche das crianças inclua um lacticínio, um fornecedor de hidratos de carbono (por exemplo pão, preferencialmente de mistura e não processado, ou, em sua substituição, frutos gordos e oleaginosos) e fruta ou hortícolas.

“De destacar que no seguimento da realização do estudo, o município já realizou algumas alterações interessantes como a substituição da “madalena” (um alimento que, além de calórico, é processado) por pão com manteiga de amendoim”, ressalva o docente.

Realizado no âmbito da pós-graduação em Nutrição, Alimentação Coletiva e Restauração da ESTeSC-IPC, o estudo “Are intermediate school meals a real contribution to improve a healthy and sustainable diet?” foi conduzido por Rita Melo, João Lima, Ana Lúcia Baltazar, Ezequiel Pinto e Sónia Fialho. Em análise estiveram as refeições intermédias (100 de manhã e 130 à tarde) fornecidas crianças com idades entre os três aos 10 anos, ao longo de quatro meses, um município do distrito de Coimbra.

No estudo foi ainda avaliada a pegada de carbono destas refeições, tendo-se verificado que que os lanches que continham produtos de origem animal – sobretudo os que incluíam produtos láteos – apresentavam maior impacto carbónico. No caso das frutas/legumes, salienta-se a pegada ecológica da banana, por ser um produto importado.

 

Rita Melo e João Lima, autores do estudo