Docente conclui pós-doutoramento
Ana Ferreira, docente da ESTeSC-IPC e vice-presidente do Politécnico de Coimbra, concluiu o pós-doutoramento em “Impacto da Qualidade do ar na Saúde Humana”, na Universidade Fernando Pessoa, no Porto.
A docente apresentou o trabalho “COVID-19 and lockdown: Impact of domestic indoor air quality on the health of teleworkers”, avaliado com a classificação final de excelente.
O objetivo principal deste estudo consistiu em avaliar e comparar as concentrações do ar interior, numa amostra significativa de habitações de trabalhadores de uma Instituição de Ensino Superior (IES) em Portugal que se encontravam em teletrabalho, e o seu local de trabalho habitual.
Segundo a investigadora, para além da contaminação atmosférica no exterior dos edifícios, a exposição a poluentes no seu interior contribui, fundamentalmente, para a exposição humana global, podendo “condicionar a expressividade e gravidade das doenças respiratórias, cardiovasculares e alérgicas”. “Esta situação veio a agravar-se devido à COVID-19, dado as pessoas terem passado mais tempo em ambientes fechados, por forma a cumprirem o isolamento social e a obrigatoriedade do teletrabalho”, explica Ana Ferreira.
Durante o estudo, foram avaliados o dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), formaldeído (CH2O), partículas de diâmetro equivalente inferior a 10 μm (PM10), 5 μm (PM5,0), 2,5 μm (PM2,5), 1 μm (PM1,0), 0,5 μm (PM0,5), 0,3 μm (PM0,3) e partículas ultrafinas, avaliando igualmente o conforto térmico.
Segundo Ana Ferreira, verificou-se que “a maioria das habitações estudadas tinha condições de habitabilidade, embora a concentração de vários poluentes possa sugerir a oportunidade de efetuar intervenções que melhorem a sua qualidade, controlando as fontes poluentes e promovendo uma maior ventilação”.
Foi também identificada uma relação entre a qualidade do ar interior e os sintomas e doenças nos ocupantes dos edifícios. “Verificou-se a existência de valores máximos de CO2, CH2O, PM2,5 e PM10 acima do limiar de proteção legalmente estabelecido em Portugal, tanto nas habitações onde os trabalhadores desempenharam funções em regime de teletrabalho, como nos locais de trabalho onde habitualmente exerciam as suas atividades em regime presencial na IES”, explica Ana Ferreira. A má qualidade do ar interior pode causar várias doenças respiratórias, doenças alérgicas e cancro. Melhorar a qualidade do ar interior ajudará a proteger a saúde humana, reduzir o absentismo ao trabalho causada por doenças, e evitar perdas económicas causadas por tratamentos médicos e hospitalares.
Estes resultados demonstraram a oportunidade de efetuar intervenções corretivas, de forma a que seja reduzida a exposição dos trabalhadores a situações de risco. “É essencial proceder-se à avaliação das causas e dos mecanismos e efeitos nas várias vertentes do binómio ambiente e saúde, contribuindo para a salvaguarda da saúde e segurança de todos os trabalhadores”, conclui Ana Ferreira.
Algumas das intervenções sugeridas pela investigadora são, no que diz respeito aos locais de trabalho, analisar a composição de produtos de higiene e limpeza utilizados, de modo a averiguar se existem compostos capazes de causar riscos para a qualidade do ar e para a saúde dos ocupantes dos edifícios, ajustar o número de trabalhadores que estão a exercer a sua atividade em espaços em “open space”, avaliar o recurso a plantas, que têm a capacidade de absorver os Compostos Orgânicos Voláteis e ajudam a eliminar as substâncias químicas presentes no ar, como é o caso da chlorophytum, comosum aglaonema, spathiphyllum, dracaena, aloes ou trepadeira, melhorar os sistemas de renovação de ar e assegurar uma adequada exposição solar, por forma a evitar o aparecimento de bolores e de humidade. É também de extrema importância fazer ações de informação, sensibilização e formação a todos os trabalhadores para que estes alterem os seus comportamentos, para comportamentos mais saudáveis, nomeadamente ventilando e arejando constantemente todos os espaços dos edifícios. No que diz respeito às casas dos trabalhadores, a melhoria nos sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado, a substituição de produtos de limpeza tóxicos por outros mais amigos do ambiente, optar por aspirar em vez de varrer os espaços interiores, evitar alcatifas, preferir lareira com “cassete” a lareiras abertas e arejar bem os espaços são algumas das medidas indicadas.